A compaixão é a capacidade de sentir plenamente a situação de uma outra pessoa. Relacionamentos familiares próximos ajudam a desenvolver essa capacidade, mas hoje em dia, o senso de união da família não é forte. Sem o apoio da família tendemos a nos retrair para dentro de nós mesmos. Já que achamos tão difícil nos relacionar com os outros, mesmo com nossos amigos, dedicamos nossos esforços para proteger a nós e aos nossos bens materiais. Nosso interesse raramente vai além de nós mesmos, além das nossas necessidades e desejos pessoais. O cuidado para com os outros e a sensibilidade em responder a eles, ambos fundamentais à compaixão, têm pouca chance de se desenvolver.
A compaixão autêntica está além dos pensamentos, além do "ego", livre de qualquer crença de que há um "eu" presente no ato da compaixão. A verdadeira compaixão, portanto, gera um sentido profundo de aceitação, e mesmo de perdão, com relação àqueles que nos causaram dor ou infelicidade. Quando somos sensíveis às fraquezas e egoísmos dos outros, percebemos que o mal que fazem é feito simplesmente por ignorância.
Trabalhe com alegria junto com as outras pessoas e coloque tanta energia em seu coração quanto puder. Seja natural e jovial. Aprenda a aceitar os outros mesmo com suas falhas. Embora o mais alto sentimento positivo seja chamado de amor, até mesmo o amor é limitado pela relação sujeito-objeto: tentamos fazer com que aqueles que nos são próximos se enquadrem dentro do que sentimos que devam ser. Eles podem ser nossos amigos, nossos namorados, nossos filhos, ou mesmo Deus ou Buda. A compaixão aceita os outros como eles são. A pessoa que compreende a compaixão por inteiro não vê mais qualquer separação entre "eu " e "outros". A compaixão é a resposta saudável e espontânea a todas as situações.
A melhor maneira de mostrar compaixão é por meio do desejo de ajudar. Quando você não puder fazer nada numa situação, simplesmente deseje com sinceridade poder ajudar. Embora esses sejam apenas pensamentos, ter bons pensamentos é algo que tem valor. Você pode também se dar conta de que o motivo pelo qual não consegue ajudar é porque lhe faltam sabedoria e força espiritual. Mas o desejo irá encorajá-lo e fortalecerá a sua prática. Quanto mais você desenvolver a sua prática, mais força terá para ajudar os outros.
O desejo consiste não apenas em palavras, mas em um sentimento profundo que vem do fundo do seu coração. Quando você tiver cultivado esse sentimento com vigor, então a disposição virá, e, depois a abertura. A esta altura, você consegue agir de modo eficaz. É assim que a compaixão começa. Você vê os problemas dos outros, sente sua dor, sua mágoa seu sofrimento. Seu desejo de ajudar se torna mais forte, conforme você se abre mais e sente com maior profundidade.
Para ajudar os outros, você precisa ter, ao mesmo tempo, sabedoria e força, o que significa compaixão. Quando uma destas qualidades ou ambas estão faltando, é difícil ser bem-sucedido. Apesar de você ter boas intenções, a falta de força significa falta de eficácia. É melhor desenvolver sua atenção plena, sua força, sua capacidade de agir.
A sabedoria e a meditação se tornam muito semelhantes. Meditação é atenção pura; e, quando esta atenção se desenvolve, ela se transforma em sabedoria. Quando entendemos o sofrimento dos outros, podemos cultivar o desejo de ajudar; depois, a disponibilidade para ajudar; então, nosso coração se abre. A sabedoria nos permite ver o que pode ser feito e nos dá a capacidade de aliviar o sofrimento dos outros.
(Trechos de "A expanção da mente" de Tarthang Tulku)
Praticar, praticar, praticar! Aprender a pensar é, definitivamente, aprender a viver.
Boa semana a todos!